Audiência pública debate contratação de médicos estrangeiros
Em
audiência pública na manhã dessa quarta-feira (4), a Comissão de
Saúde e Meio Ambiente discutiu a contratação de médicos
estrangeiros no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, e a
revalidação dos diplomas médicos obtidos no exterior. O
debate foi conduzido pelo presidente do grupo técnico, deputado
Adilson Troca (PSDB), com a participação de profissionais da saúde
e autoridades municipais e estaduais.
O
deputado Adilson Troca avaliou a reunião como positiva. “Contamos
com a presença de pessoas extremamente qualificadas que representam
os diversos aspectos pertinentes ao tema. Acreditamos que foi uma
grande oportunidade de aprofundar este debate na Assembleia
Legislativa. A Comissão de Saúde deu sua contribuição, estando
sempre atenta e aberta aos interesses da sociedade gaúcha”, afima
Troca.
Representando
o Conselho Federal de Medicina, Cláudio Balduíno Souto Franzen,
também fez duras críticas ao programa do governo. Citando artigo de
Luiz Felipe Pondé, disse que o Partido dos Trabalhadores estava
usando uma tática de difamação contra os médicos semelhante à
adotada pelos nazistas contra os judeus, fazendo a população crer
que a categoria é interesseira e não tem sensibilidade e que é
preciso trazer médicos cubanos que tenham essa sensibilidade. “Isso
é revoltante, é ofensivo”, disse. “E nós, do Conselho Federal
de Medicina temos obrigação de lutar contra isso”, declarou. Ele
observou que, em junho, quando a população foi às ruas protestar,
uma das demandas era por hospitais no padrão Fifa e que as péssimas
condições da saúde no país decorrem da falta de investimentos
crônica e não da suposta insensibilidade dos médicos. Citou uma
série de ações ao longo dos anos, que, segundo ele, teriam
contribuído para o problema. O representante do Conselho disse ainda
que não era contra a contratação de médicos estrangeiros, desde
que ela ocorra conforme as regras do país.
Já
o presidente do Conselho Estadual de Saúde, Paulo Humberto Gomes da
Silva, explicou que a posição da entidade era de apoio ao programa
Mais Médicos como medida emergencial. Disse entendê-lo necessário
por colocar o foco na saúde das pessoas e não na doença, mas
avaliou o debate como “enviesado” e defendeu a discussão de
alguns pontos fundamentais: a aplicação dos 10% constitucionais na
saúde, a prestação de serviços sociais em saúde, a necessidade
de mudança curricular para atender ao SUS e não somente ao mercado
e a elaboração de um plano de carreira para todo o Sistema Único
de Saúde.
O
médico e professor da UFRGS Alcides Silva de Miranda rebateu a
afirmação de que haveria médicos suficientes no país. Disse que
há 400 mil médicos, mas que é preciso saber onde eles estão e o
que estão fazendo e que são poucos aqueles com dedicação
exclusiva ao SUS ou nas periferias dos grandes centros urbanos. Na
sua avaliação, o programa do governo pode ser criticado por seu
caráter imediatista e eleitoreiro e é preciso lutar por
financiamento, carreira de Estado voltado para o SUS e fortalecimento
de equipes interdisciplinares, no entanto a medida tem aspectos
positivos. “É certo que muitos desses rincões não têm
estrutura, mas se eu colocar um estetoscópio lá ele não vai brigar
por médicos, ao passo que se eu colocar pessoas elas vão brigar por
estrutura”, disse. Ainda segundo ele, o sistema de saúde cubano é
um dos melhores do mundo, focado na saúde e não no mercado da
doença, independente da indústria farmacêutica, e corre-se o
risco, ao término dos três anos previstos para a estada dos
profissionais cubanos no país, de a população gostar do modelo.
Jorge
Luis de Souza, diretor de Formação Profissional e Residência
Médica da Federação Nacional dos Médicos, considerou positivo o
fato de haver concordância, segundo ele, acerca do fato de o
problema da saúde ser amplo e não se poder atribuí-lo aos médicos.
Criticou o programa do governo por considerá-lo eleitoreiro e disse
que o problema decorre de má gestão de muitos anos e do
subfinanciamento à saúde.
O
secretário de Saúde de Novo Hamburgo, Luiz Carlos Bolzan,
representando o Conselho das Secretarias Municipais do Rio Grande do
Sul, criticou o “clima de guerra fria” que a discussão inspira e
abordou o problema da falta de médicos no interior e a necessidade
de um modelo mais humanizado.
Também
participaram da audiência representantes do Sindicato dos
Farmacêuticos, do Sindicato dos Enfermeiros, do Foro Gaúcho de
Saúde Mental, do Conselho Regional de Farmácias, do Sindicato dos
Servidores Públicos, da Federação dos Metalúrgicos, entre outros.
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