Audiência pública discute entraves na Hidrovia Brasil-Uruguai

Foto: Beto Boca
A situação da hidrovia Brasil-Uruguai foi tema de audiência pública da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, presidida pelo deputado Adilson Troca (PSDB), nesta quarta-feira (29). No Espaço da Convergência, autoridades federais, estaduais e municipais, especialmente da Zona Sul do Estado, e representantes consulares do país vizinho debateram o modal de transporte. A proposição foi do deputado Zé Nunes (PT).

Adilson Troca ressaltou o potencial hidroviário do Estado e sua importância estratégica. “Entendemos que esta pauta mereça total atenção por sua capacidade de modificar o cenário dos transportes. Nossa região de Rio Grande e todo o Estado tem muito a ganhar com a concretização da hidrovia Brasil Uruguai”, afirmou o deputado.

Apesar do baixo custo e de o Rio Grande do Sul possuir a maior disponibilidade hidroviária do país, 1.860 km, dos quais 1.200 navegáveis, o acordo binacional formalizado em 2004 não avança, esbarra em obstáculos ambientais oficiais e em impedimentos institucionais materializados na opção pelo modal rodoviário, que representa 85% do transporte de cargas no Estado.

Em julho, adiantou o superintendente da Administração das Hidrovias do Sul - AHSUL, Elói Spohr, o Ministério dos Transportes abre licitação de R$ 38 milhões, com verba do PAC, para o trecho III da Hidrovia Brasil-Uruguai, que compreende o Canal de São Gonçalo, Logradouro e parte da Lagoa Mirim. A verba será para dragagem e recuperação da navegabilidade.

Viabilidades
Aos prefeitos, vereadores, empresários e entusiastas do modal hidroviário que lotaram o espaço, a empresa Ecoplan apresentou estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental da dragagem, derrocamento, sinalização e balizamento dos 1.860 km de hidrovias do Sul do país. São quatro trechos, dos quais três apresentam condições de navegação comercial através dos rios Jacuí, Taquari, Caí, dos Sinos e Gravataí (trecho I); Lagoa dos Patos e Lago Guaíba, Lagoa do Casamento e rio Camaquã (trecho II); Lagoa Mirim, Canal São Gonçalo e Rio Jaguarão (trecho III); o último trecho compreende os rios Uruguai e Ibicuí.

São vários os ganhos ambientais, como diminuição da saturação do sistema de transporte rodoviário, redução de custos de transportes (43%), eficiência logística das cadeias produtivas, integração regional e social, geração de emprego e renda. Na análise socioeconômica, redução de custos de produção e aumento de competitividade dos principais produtos agrícolas: arroz, soja, trigo; acesso a insumos de menor custo; acessibilidade a novos mercados no Uruguai; fortalecimento da indústria metal-mecânica associada ao povo naval do Porto de Rio Grande; crescimento da indústria de celulose no acesso à Guaíba; desenvolvimento de extração do calcário e indústria de cimento no Uruguai; potencial de turismo náutico, maior oferta de trabalho local e qualificação da mão de obra, e a intermodalidade (hidrovias, ferrovias e rodovias).

Navegação difícil
“Mas o projeto não avança”, desabafou o prefeito de São Lourenço, Daniel Raupp. Ele resumiu as manifestações de prefeitos e ex-prefeitos de Santa Vitória do Palmar, Eldorado do Sul, Charqueadas, Cachoeira do Sul, Rio Grande, Barra do Ribeiro, sindicalistas, trabalhadores portuários e empresários que durante três horas discutiram o tema, pedindo a estruturação da Superintendência dos Portos e Hidrovias, ações para vencer a pressão do modal rodoviário ou rearticulação dos setores que apostam na hidrovia como instrumento de incentivo às economias regionais. Nem mesmo a secretaria técnica operacional entre os dois países está oficializada, conforme comentou a cônsul do Uruguai, Karla Beszkidnyak, que aposta no projeto tanto pelo desenvolvimento econômico quanto pela geração de bens públicos regionais.


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