Dentistas do SUS no RS denunciam falta de condições de trabalho e aviltamento salarial
A falta de condições de trabalho e a desvalorização
profissional dos cirurgiões-dentistas do SUS no Rio Grande do Sul foram o tema
da audiência pública promovida na manhã desta quarta-feira (21) pela Comissão
de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. O encontro, que contou com
a participação de dentistas de vários municípios gaúchos e de estudantes
universitários, foi proposto pelo deputado Adilson Troca (PSDB).
Representantes de entidades dos trabalhadores do setor
denunciaram a degradação das condições de trabalho, a adoção de políticas
salariais aviltantes e o estabelecimento de metas irreais em diversos
municípios gaúchos. O presidente do Sindicato dos Odontologistas do Rio Grande do
Sul, Bernardo Froes Godolphim, apresentou uma série de fotografias de postos de
saúde para comprovar a precariedade dos ambientes em que a população é
atendida. As imagens revelam a existência de ambientes insalubres, falta de iluminação,
equipamentos e pisos inadequados e a utilização de espaços nos consultórios
para depósitos de materiais. “Em muitos lugares, as condições melhoraram. Mas,
em outros, estão longe do ideal”, apontou.
Ele denunciou também a falta de material básico para o
atendimento, como algodão, papel toalha e equipamentos de proteção individual.
“A odontologia é uma das últimas prioridades dos gestores e a primeira na linha
dos cortes orçamentários”, constatou.
O proponente do encontro, deputado Adilson Troca, afirmou
que a sociedade não tem ideia das dificuldades enfrentadas pelos dentistas e de
sua pouca valorização. Ele defendeu a intensificação do movimento para melhorar
as condições salarias e de trabalho na área da Odontologia.
Embora a legislação federal estabeleça uma remuneração básica para os
dentistas, de três salários mínimos para uma carga de trabalho de 20 horas
semanais, isso nem sempre acontece nos municípios, que contratam os
profissionais pelo regime estatutário próprio ou por meio de fundações. A prática,
segundo o vice-presidente da Federação Nacional dos Odontologistas, Andrew Lemos
Pacheco, gera distorções e avilta os salários da categoria em muitos casos.
Ele apresentou um comparativo entre o salário mínimo e os
vencimentos dos dentistas, dos vereadores e do prefeito de um município gaúcho
nos anos de 2002 e 2015. No primeiro período comparado, o salário mínio
correspondia a R$ 200,00, o salário dos dentistas era de R$ 800,00, a
remuneração do vereador equivalia a R$ 2.400,00 e a do prefeito, R$ 6.000.
Neste ano, os valores passaram, respectivamente, para R$ 788,00, R$ 2.000, 00,
R$ 6.000,00 e R$ 15.000,00.
Para enfrentar as distorções, ele defendeu a aprovação do
Projeto de Lei 1699/2015, do deputado federal Benjamin Maranhão (SD/PB), que
estabelece carreira unificada e piso nacional para os odontólogos, dentro
Fim da isonomia
Profissionais dos municípios de Canoas, Gravataí e Sapiranga reclamaram do fim
da isonomia salarial entre médicos e dentistas. Segundo Carla Pitoni, dentista
de Gravataí, médicos e dentistas do município cumprem jornada idêntica, mas
passaram a receber salários diferentes. Ela denunciou também o fim dos plantões
24 horas para promover economia com o não pagamento de gratificação por
trabalho noturno.
Situação semelhante foi relatada pela dentista Carla
Oliveira, de Sapiranga. “Um estudo orçamentário demonstrou que a economia da
prefeitura com a quebra de isonomia é de R$ 30 mil por mês. Um valor irrisório
comparado com gastos questionáveis em outras áreas”, apontou, enfatizando que
os gestores municipais se negam a dialogar com a categoria.
O presidente da Comissão de Odontologia do Trabalho do
Conselho Regional de Odontologia, Márcio Redmann, defendeu o aumento dos
investimentos na saúde e alertou para a gravidade do quadro. “Se continuar
assim, a saúde bucal vai paralisar e se tornará mais um problema para o
Estado.”
Já a responsável pela Saúde Bucal da Secretaria Estadual de
Saúde, Maria Rita Lemos, lembrou os avanços ocorridos no SUS e pregou a união
da categoria para enfrentar os novos problemas que estão surgindo. Maria Rita
lamentou, ainda, a ausência dos gestores municipais no debate.
Foto: Guerreiro
Comentários
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante. Expresse aqui sua sugestão, critica ou idéia. Seu contato também pode ser feito através do e-mail adilson.troca@al.rs.gov.br